O Espelho de Edgar

Juliana Monachesi, Select / Celeste, 5 Julho 2023

A Invenção do Espelho, de Novíssimo Edgar, parece que vai tratar do engodo colonial de trocar as riquezas encontradas em Pindorama por quinquilharias europeias. Antropológica do Espelho, de Muniz Sodré, e Espelho Enterrado, de Carlos Fuentes, vêm à mente, talvez porque li recentemente o ensaio de Agnaldo Farias sobre a exposição de Fabio Cardoso e notei como ele se divertiu escrevendo sobre uma série de pinturas em que pedras são representadas. Pedras e espelhos são o típico assunto que dá pano pra manga dos críticos que gostam de evocações (será que algum crítico de arte não gosta?). Farias convoca Educação pela Pedra (João Cabral), No Meio do Caminho (Drummond), e Castelo dos Pirineus (Magritte), “uma rocha colossal de formato elipsóide com contornos irregulares, um menir suspenso no ar com um castelo no seu topo, um castelo que à distância parece minúsculo, estranhamente com a mesma aparência rugosa e cinzenta da pedra que o sustenta, como se fossem constituídos da mesma matéria”, descreve ele a pintura de Magritte, com um sorriso nos lábios, aposto. Eu teria pensado em Ugo Rondinone, Carmela Gross, Denise Millan, Gustavo Caboco. Mas o espelho da expo de Edgar não convida a esse tipo de evocação. Daí os livros; o de Sodré trata de comunicação; o de Fuentes, de colonização.

 

Escrito a convite de uma emissora de televisão, originalmente como roteiro para uma série documental, Espelho Enterrado (1992) é uma balanço dos 500 anos da chegada dos espanhóis às Américas. Importante intelectual público e romancista mexicano, Carlos Fuentes reconstitui o contexto de mudança do feudalismo para a Era Moderna na Espanha do século 15, assim como o histórico das civilizações mesoamericanas pré-colombianas, para narrar o encontro e o choque entre culturas antagônicas a partir de 1492. Fuentes defende que a América é uma invenção de sua “plateia” europeia renascentista, e que Maliche, a esposa indígena e intérprete do conquistador Hernán Cortés, plasma “as bases da nossa civilização multirracial, mesclando o sexo com a linguagem”, porque além de servir como intérprete de Cortés, possibilitando que ele chegasse ao coração da magnífica cidade de Montezuma nas montanhas mexicanas, ela também aprendeu a língua nova do comandante espanhol, “que deveria tornar-se o mais forte elo entre os descendentes dos índios, europeus e africanos no hemisfério americano”. 

 

Clique aqui para acessar a matéria completa.