A MEDIDA DA VOZ

  • Maria Laet apresenta como proposta a realização da instalação sonora imersiva e do filme obra A medida da voz, que trata da medida de espaço e de tempo da voz.

  • Oito vozes são reverberadas de dentro para fora de oito vasos de barro (que trazem consigo a medida aproximada do corpo), dispostos em círculo e enterrados até a superfície, buscando falar de um movimento que é contínuo. São vozes faladas dentro da terra, e ampliadas pelo barro. A voz abordada no trabalho não usa a palavra, não tem discurso, idioma ou cultura. Ela busca falar do seu próprio fôlego, em toda sua potência e precariedade. Trata do fôlego que é individual, e de como ele existe em conjunto. Quando o fôlego de uma pessoa termina, um próximo começa, como vozes que continuam uma na outra, de dentro para fora da terra. A voz, o fôlego que é naturalmente finito, como unidade de tempo de uma costura maior, de tempo indeterminado.

     

    A seleção das vozes que compõem esta obra se deu dentro do meu círculo de amizades,  nele busquei uma grande diversidade de timbres para garantir um resultado acústico que permitisse a diferenciação entre vozes pertencentes a diferentes indivíduos.

  • Porém, é importante garantir tempo, organização e recurso necessário para realização do trabalho e sua exposição. A medida da voz tem como gênesis a montagem da instalação num espaço adequado ao seus aspectos (é necessário um espaço aberto, com chão de terra alaranjada como a cor do vaso, sem muitas raízes ou pedras, uma terra passível de ser aberta como foi o caso do Parque Lage, da área atrás da oca), e a realização de filme/obra contendo experimentações plásticas e sonoras, e registrando o processo do trabalho.

  • Realizei em 2019, a Experiência Piloto, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Uma prospecção importante que me ajudou a entender tanto questões poéticas quanto os detalhes técnicos, logísticos e estruturais, me permitindo  experimentar processos e ferramentas para realização dessa obra. Assim muitos aspectos do trabalho foram entendidos, desenvolvidos, testados e aprofundados, e o desdobramento desta experiência, gerou a série Imersão (composta por duas sequências de fotografias, um tríptico e um políptico).

  • Aproveito aqui para deixar meus agradecimentos a todas as pessoas que de formas diferentes participaram generosamente na realização do processo até aqui: Ana Miguel, Beth Nabuco, Boca do Trombone, Carlos Vergara, Cabelo, Celo Frankel, Cela Luz, Ernesto Neto, Felipe Messina, Flávio Leão, Isabel Diegues, Isabel Portella Julio Lobato, Manuel Águas, Marcos Chaves, Maria Cristina Laet, Marina Provenzzano, Raika Moises, Ricardo Mansur, Reginaldo Mendonça (Gereco), Rosa Melo, Shannon Botelho, Vanderlei José da Silva, Ulisses Carrilho e toda equipe da Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

  • Ao longo dos últimos quinze anos, venho desenvolvendo e produzindo obras que buscam se relacionar de forma poética e sensível com elementos como o fôlego, o ar, a terra, o espaço do corpo e o tempo da matéria, também com relações de opostos como o dentro e o fora, o invisível e o visível.

     

    Abaixo deixo algumas referências de outros trabalhos, e textos que dialogam com A medida da voz:

     

    Por onde passamos, 2019 - http://marialaet.com/obra/1175/

     

    Sem Título (Casa), 2013/ 2018 - http://marialaet.com/obra/sem-titulo-casa-2013-2018/

     

    Pneuma, 2010/ 2016 - https://vimeo.com/198604665

     

    Terra (Canudos), 2015 - http://marialaet.com/obra/canudos/

     

    Sopro, 2013 - http://marialaet.com/obra/sopro/

     

    Poente, 2013 - http://marialaet.com/obra/long_way/

     

    Diálogo (Sopro), 2008 - 1 - http://marialaet.com/obra/serie_dialogo_sopro_foto/
    Diálogo (Sopro), 2008 - 2 - http://marialaet.com/obra/serie_dialogo_sopro/

     

    Fôlego, 2005 - http://marialaet.com/obra/folego/

     

     

    Ensaio: Poro, por Frederico Coelho, escrito para o livro de mesmo nome, editado pela Cobogó em 2018, contento trabalhos de 2005 a 2018 - http://marialaet.com/textos/poro/

  • Maria Laet (Rio de Janeiro, 1982)

     
  • Artista brasileira, vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro. Suas obras friccionam dinâmicas sutis com elementos da natureza como ar, tempo, luz e energia, que constituem um glossário único. Com fôlego a artista cria um inventário de escutas e ações que vinculam terra e corpo a experiências atemporais. O diálogo com múltiplas materialidades, o espaço de respiro entre volumes da vida, o hábito, o equilíbrio, a intuição e a fluidez ampliam-se em fotografias, instalações, objetos escultóricos e vídeos, que manifestam no conjunto da obra de Maria uma experiência sensorial singular. Em seus estudos empíricos a artista aponta o oscilar, a liberdade, o gestual e as memórias que se diluem entre silêncios e ruídos, ciclos que curvam um corpo ou alongam camadas de outro. A densidade dos múltiplos espaços da cidade é rearranjada pela artista, que com um manejo efêmero transforma o que toca em costuras e tramas transpassadas por fugacidades e prolongamentos.

    [Saiba mais: https://marialaet.com/]

     

    Em 2019 realizou as exposições individuais "Quase um nada" no Instituto de Arte Contemporânea de Villeurbanne/Rhône-Alpes, na França e na Galeria 3+1 em Lisboa, e "Sobrecéu" na Galeria do Lago - Museu da República no Rio de Janeiro, Brasil. Participou das coletivas "Matters of Concern", na Foundation D'entreprise Hermès, Bruxelas, Bélgica, "Apuntes para un tiempo geológico" na Galeria Ángeles Baños, Espanha, "Play-list 2" na Galeria Martine Aboucaya e "Correspondance, autour de Jacques Roubaud" na Galeria Martine Aboucaya, ambas na França, "I Remember Earth" no Magasin des Horizons, Centre National d'Art Contemporain, em Grenoble, França, "Bauhaus: Utopia in Crisis", no Camberwell Space, Camberwell College of Arts, Londres, "Tecer Mundos", Sesc Quitandinha, em Petrópolis e "Da linha, o fio", no Espaço Cultural BNDES, no Rio de Janeiro. Participou da 33ª Bienal de São Paulo em 2018 e da 18ª Bienal de Sydney em 2012. Realizou residência artística na "Residency Unlimited" em Nova York em 2014, no Carpe Diem Arte e Pesquisa em Lisboa em 2010, Portugal e na Schloß Balmoral, na Alemanha em 2009.

     

    Sua obra faz parte das coleções do MAM Rio, Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro, Brasil; MAC Niterói, Brasil; 49 Nord 6 est - Frac Lorraine, Metz, France; MSK, Ghent, Belgium; Colección Patricia Phelps de Cisneros; AGI, Verona, Italy; Maria Cristina Masaveu Peterson Foundation, Madrid, Spain; Figueiredo Ferraz Institute, São Paulo, Brasil; MoMA, New York; Special Collections, The Getty Research Institute; Rare Books and Special Collection, Princeton University; The Bienecke Rare Book and Manuscript Library, Yale University; Ivorypress Artist's Books Collection, Madrid; Uría Menéndez Collection, Spain; MAR, Rio de Janeiro.